DE ONDE VENS, PARA ONDE VAIS?

Artigo 031

Estive pensando acerca de vários temas que vão nos confrontando como religiosos. Não sou a melhor referência para escrever sobre a Vida Consagrada e tampouco, não quero generalizar nestes apontamentos. A reflexão é livre e aplica-se a cada um ou em comunidade se assim for oportuno. O intuito é partilhar algumas impressões e crescer juntos.

O primeiro deles trata-se de reconhecer nossas origens e nunca as negar. Com raras exceções, a grande maioria dos nossos religiosos provém de famílias muito carentes, das zonas urbanas ou rurais. Nasceram na simplicidade e nem sempre tiveram um conforto digno. São filhos e filhas de gente batalhadora, humilde, que deram o melhor de si para ter o mínimo de sobrevivência. Temos ao nosso redor histórias em comum, de dramas, dificuldades, insegurança, de muitos valores construídos na honestidade e na humanidade. E o chamado de Deus, a vocação se dá neste contexto real. 

A entrada na casa de formação rompe fortemente com todo o esquema familiar. Parece haver uma descontinuidade em relação a tudo que se aprendeu, principalmente em relação à fé. A própria estrutura das nossas casas e a maneira de nos relacionarmos quebram completamente o que trazemos. O processo formativo é um molde e isso é essencial para o ministério. Porém, moldar-se, significa que Deus comanda nossa existência, sem destruir uma história rica em sabedoria. 

Muitos formandos parecem negar suas raízes, procurando a todo custo ocultá-la como se fosse vergonhoso nascer na pobreza. E ao iniciar seu processo, revestem-se de uma máscara com pompas que se tornam estranhos em sua própria casa. Já ouvi relatos sobre formandos que, ao partirem de férias na casa dos pais, começaram a implantar um ritmo incompatível com a estrutura vivida cotidianamente pela família. Fazem exigências quanto à comida, ambiente, tipos de roupas etc. Com isto, causam surpresa e até mesmo falta de credibilidade entre os mais próximos. Geram conflitos, levam os pais a se endividarem por causa de seus caprichos, magoam, se apresentam como donos da verdade, escandalizam. Então me pergunto: onde está o problema? Sem dúvida, o problema está no contexto formativo e na estrutura obsoleta que já não responde mais aos anseios do tempo presente.

Na minha percepção, o esquema formativo, tem pecado no aspecto das responsabilidades pessoais. Recebe-se muito e se responde pouco. Damos tudo e, justamente por isso, não há valorização e tampouco compromisso social. Há, até mesmo um descaso com a própria vida e um desfile de insatisfações. Quanto mais facilidades, menos amor. As melhores condições físicas formativas, nem sempre são as que preenchem os ideais. Se não houver a contrapartida e a mudança de mentalidade, sobretudo de quem está à frente, continuaremos formando ingratos e individualistas, pessoas vazias, hipócritas, escondidas em suas vestes de autoritarismo e exibicionismo. Formaremos problemas e não consagrados.

A ingratidão é certamente a maior característica dos consagrados nos tempos atuais. Dela provém os “ismos” que tanto mal causam ao sentido real do seguimento de Jesus. Os ingratos se escondem e esquecem seu passado. Quando a história é reprimida, a vida perde o sentido, as potencialidades e a própria vocação entram na mesma sintonia decadente. 

Gratidão tem que aparecer em todos os espaços formativos. Ou melhor, formar para a gratidão é urgente e oportuno. É o primeiro molde da caminhada vocacional. Esse tema deve ser inserido no estilo de vida das casas formativas e realçado em todos os momentos. 


Pe. Nilton Cesar Boni cmf
Formador Teologado Claretiano – Curitiba/PR

 
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