DE ONDE VENS, PARA ONDE VAIS? II Parte

Artigo 032

O segundo aspecto tem a ver com a comunidade. Entendemos a Vida Consagrada como vida em comum baseada nos votos que fazemos. Destaco aqui sobretudo a pobreza e a obediência. Entendemos como voto de pobreza, o não ter propriedade ou bens em nome próprio. Teoricamente assim se expressa a teologia dos votos e não precisamos explicar. Mas na prática, muitos tem justificativas, descontextualizando-o de seu real sentido. Podemos não ter nada como pessoa física, mas temos muito como pessoa jurídica. Até aí tudo bem. Da mesma forma que o cidadão precisa ter para se desenvolver, nós também precisamos para manter nossa missão ou instituição. O que preocupa nas comunidades é a desigual partilha dos bens e o egoísmo que aos poucos vai formando idólatras e exigentes.

Se a comunidade religiosa é o espaço da partilha e da solidariedade, então, é preciso sim questionar alguns estilos de vida apegados a luxos e regalias. As omissões no âmbito da partilha de bens têm gerado insatisfação, juízos, falta de amor e hipocrisia. Certamente é o que mais adoece o ambiente. É o que se nota no frequente individualismo que vem se instalando e na proteção que cada um busca diante do que aparentemente é seu. Se entendemos a vida consagrada como um “nós”, então falta colocar em prática o que os carismas congregacionais têm aportado. Se as leis canônicas, os nossos diretórios, as constituições especificam que os bens devem estar a serviço da comunidade, então precisamos passar por um sério processo de conversão, pois existe muitas comunidades sofrendo por não ter o básico para se sustentarem enquanto, muitos consagrados vem enriquecendo e construindo patrimônios às custas de suas Instituições. 

Não estou querendo dizer que cada um deve perder sua individualidade e entrar numa espécie de comunitarismo, isso seria doentio, mas é preciso entender que o equilíbrio entre o ser o ter dentro da vida religiosa precisa existir, do contrário nos tornaremos meros profissionais do sagrado. Homens e mulheres morando na mesma casa, mas a serviço de seus interesses, mantendo a superficialidade em nome da vocação. Ao perder esse referencial, o ministério não tem mais razão de ser. Não há realização quando o egoísmo toma conta de um estilo de vida que busca doar-se a Cristo.

O terceiro aspecto é em relação ao trabalho em equipe. Também um tema que precisamos amadurecer, pois nota-se que em nossas atividades missionárias há um centralismo que dificulta a participação. Entendemos que a comunidade religiosa deve abraçar a missão e ser corresponsável, uma vez que é patrimônio de todos. No entanto, é um ponto a ser repensado e mais bem trabalhado desde a formação inicial. Cada dia mais se vê conflitos nesta área. O serviço torna-se poder e o poder converte-se em autoritarismo. A falta de trabalho em equipe é claramente uma disputa de poderes e um jogo político capaz de transformar irmãos em adversários, num verdadeiro campo de batalha descaracterizando a essência da vida religiosa. A falência de algumas obras de evangelização levadas à cabo pelos religiosos, tem a ver com isso. Um trabalho em equipe é construído a partir de um projeto e deve ser avaliado constantemente com a colaboração de todos. Mas, um projeto individual dentro da vida religiosa, torna-se frágil e perigoso.

Estes desafios devem ser levados em constante consideração na formação dos futuros religiosos e nos que já tem votos e muitos anos de caminhada. Ambos precisam estar cientes de onde vieram e para onde caminharão. Estão neste itinerário por Cristo e só serão felizes se souberem dar sentido ao ideal, ao chamado. As escolhas devem se pautar no Evangelho e nas opções pelo Reino de Deus e não na “segurança vulnerável” que a vida religiosa concede. A vocação não se sustenta se a base não for Cristo, igualmente a vida, sem os pilares básicos do amor e do altruísmo acaba perdendo o valor.

Gratidão, partilha de bens e trabalho em equipe dão credibilidade, fortalecem e respondem à questão tema desta reflexão: “de onde vens, para onde vais?”. 

Paz e bênçãos!
Pe. Nilton Cesar Boni cmf
Formador Teologado Claretiano – Curitiba/PR

 
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