O COVID 19, ABRIU-NOS AS PORTAS PARA EVANGELIZAÇÃO

Artigo 025

Damos sequência com a segunda  parte do Artigo do Pe. Rafael Solano.

Aqui estão ao meu ver as duas realidades mais exigentes que nos deixará a pandemia do ano 2020. Pandemia esta que se estenderá por um bom tempo. Quanto? Não o sabemos; além do mais que não podemos afirmar que se trata de uma única pandemia; só podemos prever que os seus resultados, positivos ou negativos; não serão tão deleitosos quanto o aquele que deixou o mito de Dionisio. Vejamos assim quais as possíveis consequências eclesiais da “época pandêmica”.

1. Hermenêutica da Comunicação.  “Vattimo, partindo de uma perspectiva hermenêutica, levanta outro problema: a relação entre verdade e retórica. O autor diz que, para Heidegger, há “conexão” ou “identificação” entre ser e linguagem, uma vez que somente o Dasein pode desvelar o ser. Nesse sentido, Gadamer submete a filosofia heideggeriana ao conceito de “urbanização” de Habermas, e também afirma que o ser só pode ser compreendido através da linguagem, aproximando-se de pensadores como Richard Rorty e Wittgenstein. No entanto, Vattimo ressalta que:

“Seria um erro, todavia, acreditar que a urbanização do pensamento heideggeriano em Gadamer se resolve por inteiro nessa acentuação do âmbito da linguagem, talvez em sintonia com a função de modelo assumida pela linguística nas ciências humanas de orientação estruturalista, precisamente nos mesmos anos em que era publicado Wahrheit und Method; ou ainda, apenas em relação ao fato de que interpretação e tradição hermenêutica que se encontram no centro do interesse de Gadamer, orientam desde o início sua reflexão sobre a linguagem” (VATTIMO G. 131)”.

Não houve quem não promovesse uma nova linguagem neste tempo de pandemia. Novas expressões tornaram-se conhecidas; quer por meio da criatividade, quer por física necessidade a linguagem mudou.

A linguagem religiosa adotou maneiras inesperadas. Nas expressões que todos utilizávamos muito mais do que um mero consolo ou utopia formal, encontra-se a maturidade e ao mesmo tempo a constatação de que as nossas palavras tinham mudado. É vital olhar para o elemento de “urbanização” ao qual se refere Vattimo; pois um tempo atrás o Papa emérito Bento XVI quando cardeal Joseph Ratzinger; tinha citado o conflito que o mesmo Heidegger tinha criado e que Habermas tinha aberto como caminho de solução. “O debate travado entre o filósofo Jürgen Habermas e o cardeal Joseph Ratzinger publicado, no Brasil, com o nome Dialética da Secularização: sobre razão e religião, é inspirador. Enquanto, em uma posição liberal, Habermas defende o império da razão prática como âncora do pluralismo entre religiosos e entre não religiosos e religiosos, Ratzinger propugna pela anterioridade do criador a qualquer projeto humano, e pela existência de um ethos ocidental que correlacione razão com religião” (BARSALINI, Glauco; PUC, Campinas – SP. 2015). 

Falamos hoje mais do que nunca em pastoral urbana. O COVID 19 abriu-nos as portas para poder iniciar este caminho de evangelização tão particular. A urbe não está nem no centro, nem nos condomínios, nem nas periferias. A urbe está no mundo todo. É uma pastoral satelital. Muitos dos que participavam dos eventos religiosos que eram transmitidos pelas LIVE e pelos INSTA ou pelos FACE, moravam a distancias enormes da paroquia territorial. Os canais católicos de TV, viraram todas as paroquias e centros religiosos desde donde havia uma transmissão. A linguagem mudou! O mundo todo deixou de ser uma “aldeia” para se transformar numa LIVE.

Perdeu interesse o BBB, as novelas tiveram sua entrada no ver de novo, shows e eventos multitudinários ocuparam a megalópole e ninguém fugiu a esta nova realidade. Teremos então que encontrar o caminho da ética mundial que nos permita abrir o caminho para razão e a religião. 

O mundo da comunicação em massa do COVID 19; até eliminou os custos de produção; de estilistas, produtores e estúdios de TV. Um celular e um bom wifi são necessários para chegar ao público que se quer. Razão tinha o investidor americano Warren Buffet quando afirmava em 2.015: “Você só descobre quem está nadando nú, quando baixa a maré”. 

2. Antropologia do Humano. Guardini na sua obra deixa entrever o grande conflito da modernidade. Onde está o humano e onde está o natural.

“Estes dois fenómenos, o homem não humano e a natureza não natural constituem uma relação funda­mental sobre a qual se construirá a existência do futuro. É nesta existência que o homem será capaz de levar o seu domínio sobre o mundo até às últimas consequências, expondo livremente os fins que pretende, dissolvendo a realidade imediata das coisas, servindo-se dos seus elementos para realizar os fins em vista – sem considerar os possíveis in tangíveis, tal como surgiam da anterior imagem do mundo e da natureza. Não foi fácil falar na modificação que se operou nos tempos modernos nas relações com a natureza e a subjetividade, uma vez que vivemos ainda esse processo; mais difícil se torna exprimir o que se passa com a representação da cultura”. (GUARDINI, R. 114).

O COVID 19, não é então a única pandemia que num certo sentido tem deixado a pessoa humana reclusa e distante dentro da igreja. O individualismo tem agido de forma arrasadora no meio de muitos batizados e batizadas, que amam a sua igreja “individualizada” e não particular! Uma eclesiologia sem relação, simplesmente cultual e ou até participativa segundo as minhas convenções e conveniências.

Onde está o ser humano, a pessoa? Ao ver ficaram dissolvidos pelas mega estruturas quer sustentadas nos assim chamados carismas ou nos movimentos e novas associações; alguns se atrevem a chamar de “novas comunidades”; Ah se fossem... teriam muito das primitivas então ali resplandeceria a partilha em comum do ser igreja assim o expressou Guardini na sua obra magna o Espirito da liturgia: 

“O fim primordial e peculiar da liturgia não é o culto prestado a Deus pelo indivíduo. Ela não procura nem a edificação, nem o despertar espiritual, nem a formação interior, do indivíduo como indivíduo. Não é ele que é o sujeito da oração e da ação litúrgicas. Não é também a simples soma de uma grande número de fiéis que ela nos apresenta numa igreja como expressão material da unidade da paróquia no tempo, no espaço e no sentimento. O sujeito da liturgia é a união da comunidade cristã como tal, algo mais que a simples soma dos indivíduos, é a Igreja”. (GUARDINI, R. O Espirito da Liturgia, 25). 


Pe. Rafael Solano. Presbítero da Arquidiocese de Londrina – PR. Professor de Teologia Moral e Bioética da PUC -PR. Campus Londrina e Curitiba. PhD. Teologia Moral. 

 
Indique a um amigo
 
 
Artigos Relacionadas

Notice: Undefined property: stdClass::$categoria in /home/crbprbr/public_html/pg/post2.php on line 167

Notice: Undefined property: stdClass::$id in /home/crbprbr/public_html/pg/post2.php on line 167