O EXERCÍCIO DOS CARISMAS NO LAICATO.

Artigo 022


Destacar a ação do Laicato no exercício dos carismas é compreender de modo sensível a missão da Igreja no mundo, o papel que os leigos exercem na propagação do Evangelho e de um modo de vida cristão que permeia a sociedade. Estar ciente de como isso se dá pode ser ferramenta útil na compreensão de quem somos, dar sentido à vida, propósito por meio do fortalecimento de uma fé calcada na graça da distribuição dos diferentes dons de Deus. 

É essencial também ter a dimensão de que todos temos nossas particularidades, mas jamais podemos esquecer que em primeiro lugar nos unimos pelo Cristo e o Espirito Santo que age em nós e nos desafia a cristianizar o Mundo. Por isso mais do que nunca precisamos estar unidos e sermos corresponsáveis por nossas ações, lutando por justiça, verdade, fraternidade e pelo respeito à natureza. 

Para tanto, gostaria de trazer ao debate a importante contribuição que João Batista Libânio nos deu com seu livro “Os Carismas na Igreja do terceiro milênio”. Num misto de exortação e profunda análise teológica, o padre jesuíta nos mostra uma maneira de exercer os carismas baseada na busca de uma identificação com o termo em seus princípios. 

Para ele, é justo que coloquemos em prática os dons que recebemos como o próprio Jesus o fez, pleno de liberdade, sem as amarras institucionais ou rituais, fugindo do farisaísmo hipócrita. Libânio nos lembra qual o lado que Jesus escolheu quando teve que decidir entre curar um paralítico ou guardar o sábado, entre a pena capital a uma adúltera e o perdão, entre o jejum e a alegria do convívio com os discípulos. Nas palavras desse autor “Cristo relativiza a instituição por mais sagrada que seja. Ultrapassa a visibilidade escrita para ir ao âmago, ao último sentido da Lei”.

Antes de prosseguir, cabe também a reflexão de Libânio sobre a diferença entre talento e carisma. O carisma pressupõe o talento e o aperfeiçoa com a experiência do Espírito. O carisma implica na renúncia do sentido de propriedade, ou seja, não é algo que a pessoa detém por si só, mas remonta ao mundo religioso da graça, explicitamente percebido como dom de Deus. 

Cientes disso, precisamos entender também quem somos os leigos. Para o doutor em teologia pela PUC do Rio de Janeiro, Marco Antonio G. Bonelli, em seu texto - O Papa Francisco e os leigos Marco, “Somos quem participa de direito e de fato de variados carismas, vocações e serviços, que não são meras “funções” para realizar tarefas práticas, mas se constituem num modo próprio de ser cristão, de responder ao chamado de Deus e também um modo próprio de participar da missão da Igreja. ”

Na síntese de Bonelli, somos, “antes de mais nada ‘cristãos’”, discípulos de Cristo e continuadores de seu projeto de vida ao longo da história. Cada um, com sua vocação e seu carisma próprio, consagra a própria vida a Deus, exerce um serviço pelo bem da comunidade e busca, a seu modo, contribuir para propagar no mundo a salvação oferecida e realizada por Jesus”.

Tendo esses princípios em vista, o documento 105 da CNBB se torna um verdadeiro farol para nossa atuação no exercício da fé no dia a dia. Nele, temos a indicação de que para preservar a unidade da Igreja, o Papa Francisco, como também São João Paulo II, lembram que as comunidades cristãs devem seguir os seguintes critérios da primazia à vocação de cada cristão; responsabilidade em professar a fé católica no conteúdo integral; o testemunho de uma comunhão sólida com o Papa, com o Bispo, com o Pároco na estima recíproca de todas as formas de apostolado na Igreja; conformidade e a participação na finalidade apostólica da Igreja, que é a evangelização e santificação das pessoas; empenho de uma presença na sociedade a serviço da dignidade integral da pessoa humana mediante a participação e solidariedade para construir condições mais justas e fraternas. 

Assim, a participação consciente e decisiva dos cristãos em movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, conselhos de políticas públicas e outros, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja, constitui-se num inestimável serviço à humanidade e é parte integrante da missão de todo o povo de Deus. 

O documento também salienta o que o Papa Francisco chama de Cultura do Encontro, ou seja, “uma postura aberta e disponível para a qual é necessária uma humildade social que considere, por exemplo, a importância das culturas e religiões e o respeito aos direitos autênticos de cada um.” Trata-se de um desafio para toda a Igreja, passar de atitudes fechadas à formação de uma nova cultura, que constrói cidadania no diálogo e que não tem medo de acolher o que o outro, o diferente, tem a oferecer. Esse é o espaço aberto para os cristãos leigos, nesta sociedade dilacerada pelo desrespeito ao diferente, pela intolerância e pelo medo.

Neste momento, quando cada vez mais as bolhas se formam, grupos antagônicos disputam narrativas, ânimos se acirram e fazem da paz sua primeira vítima, é preciso muita coragem, fortaleza segundo a doutrina, para agir no mundo como sal, fermento e luz. Não será possível a partir de nossos próprios esforços nem de nossos talentos pessoais a menos que estejam imersos na graça, ou como já foi dito aqui.

Roberto (Beto) Mistrorigo Barbosa Leigo Inaciano –CVX Coordenador de Comissão de Formação do CNLB (Conselho Nacional do Laicato do Brasil) 


 
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