Encontro de Formadores On-line.


No dias 13 e 14 de abril a CRB-Regional Curitiba promoveu um Encontro on-line para formadores/as em suas diversas etapas formativas da Vida Consagrada e para interessados. Tivemos a participação de mais de 170 pessoas, de diversos estados do Brasil.  O tema trabalhado foi: A importância da superação da fragilidade Vocacional e Institucional no Processo formativo. Formação da consciência e do coração.  Contamos com a assessoria de Pe. Mario Marcelo Coelho, SCJ

O presente resumo foi  elaborado por: Pe. Nilton Cesar Boni, CMF
OBS: Cada um pode fazer os acréscimos necessários ao documento, a partir de suas anotações.




Formar a consciência e o coração dos jovens é ajudá-los a discernir seu chamado. O discernimento deve levar em consideração duas premissas:
- uma coisa é eu querer ser religioso ou sacerdote, e;
- outra é ter condições para responder a esse chamado.
A pessoa jamais conseguirá conhecer-se totalmente nesta vida, porém, a formação tem como objetivo ajudar o jovem a descobrir quem ele é e fazê-lo sentir-se vocacionado.
Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Somente se as questões forem bem colocadas e bem apreendidas é que poderão encontrar uma resposta satisfatória.
Duas imagens significativas, podem ser aplicadas neste processo vocacional: a primeira vemos no antigo templo de Delfos, na porta de entrada continha a seguinte inscrição: “Conhece-te a ti mesmo, lembra-te de quem és” e a segunda é o enigma da esfinge: “decifra-me ou devoro-te”. Cada ser humano tem que descobrir quem ele é e qual o caminho que conduz à felicidade. Quem não se conhece será sempre refém de suas emoções, se auto-destrói. O enigma é sinônimo de conhecer a si mesmo, é a condição do próprio homem. Os sentimentos e emoções são parte de nossa essência, não há como impedi-los de se manifestarem, mas cada um é responsável na maneira como tratá-los.
Por isso, falar da fragilidade vocacional e tratar da fragilidade da pessoa.

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CONSTRUÇÃO DA REALIDADE

Partimos da afirmação de que somos pessoas situadas. Fazemos parte de um contexto histórico e ele influencia nossa conduta.

1. Sociedades tradicionais – também chamadas de pré-modernas, existiam antes da industrialização. Podemos dizer que, a maior parte da história da humanidade passou por essa sociedade uma vez que os tempos modernos têm início no séc. XVI-XVII. Neste modelo destaca-se a honra e a família como valores principais. As grandes desigualdades eram legitimadas pela religião e pela filosofia. O catolicismo era predominante exercendo forte influência na vida social e familiar. O sistema moral era justificado pela vontade de Deus.
2. Sociedades modernas – a tradição aqui é negativa; surge o mito do progresso; a valorização do indivíduo em detrimento da coletividade. Busca-se o paraíso terrestre, cuja construção se dá pelas mãos humanas. A realização está no progresso científico e a ordem mundial é legitimada pela técnica. A ética está na tecnologia.
3. Sociedades pós-modernas – pós-industrial, pós-democracia, pós-humana, pós-modernidade, pós-verdade. Hoje já se usa a expressão auto-verdade. Neste atual modelo prevalece o que eu penso como deve ser as coisas. Eu construo minha maneira de viver a vida. As instituições não dizem mais nada. Neste contexto estão presentes:
- ausência de regras e valores rígidos;
- individualismo;
- pluralidade e diversidade;
- combinação de tendências, gosto e estilos;
- produção em série de cultura voltada para o consumo rápido;
- liberdade de expressão e pensamento;
- mistura entre realidade e imaginação = hiper realismo;
- disponibilização de grande quantidade de informações;
- incertezas e vazios existenciais.

A grande síndrome do século XXI é a depressão e o suicídio entre jovens. Ver também a Síndrome de bournout.

Os grandes valores buscados na sociedade atual são:
- imortalidade
- felicidade                              EU SOU O MEU DEUS
- divindade humana 

Nesta sociedade complexa, o grande perigo é evidenciar sobretudo, as carências, as fraquezas e as incapacidades. É neste contexto que a VC está inserida.
A vida apresenta-se como um labirinto sem indicações provocando desorientação nas opções. Justamente pela transição, as mudanças rápidas com o abandono dos antigos modelos, a falta de novas referências e os escândalos na Igreja, os jovens acabam buscando “gurus”. Esse processo de globalização contribui para o surgimento de novas identidades.
Quando as fragilidades dos jovens não são atendidas, eles desistem. O nosso problema, não é o que deixamos, mas é o cêntuplo, o que adquirimos, o apego, a valorização dos bens que possuem. O discurso na entrada para a VR é muito bonito, mas ao longo do caminho se perde.
Outros problemas que detectamos em nossas comunidades são: o subjetivismo, a preocupação com o efêmero, a exaltação da própria imagem sobretudo nas redes sociais, a fluidez do imediato. É um fato a valorização da antropologia do homem secularizado. Em muitas comunidades Deus é o último a entrar. O risco do minimalismo religioso explica o rigor e o linchamento da religião. Neste contexto, a formação teológica é importante, mas não podemos terceirizar a formação de nossas casas. Tem valores que são inegociáveis e devem fazer parte do processo formativo diário.
Quando terceirizamos a formação contribuímos para que os jovens busquem respostas nos gurus. A perda da capacidade de raciocinar forma pessoas egoístas, egocêntricas, alienadas e indiferentes. O caminho é promover o diálogo construtivo e tocar abertamente nos temas atuais para ajudar o jovem que está diante de nós. 
O jovem que está diante do formador é alguém que se questiona: onde coloquei a minha vida? Se a instituição perdeu a credibilidade é porque ela está frágil. Infelizmente, muitos entram na VR atraídos pelas vestes e não pelo carisma e pelos valores. É algo que precisamos refletir.
A mudança de época não tem mais um índice do agrado, do apreço, de confiança e de referência. Existe a grande influência do modismo. A maioria dos que ingressam em nossas casas são provenientes de famílias desagregadas, influenciadas pelo contexto cultural atual. Por isso, a formação não pode estar alienada. O que entra em nossas casas e na vida dos formandos? 
A fluidez torna-se sempre mais inconsistência, incoerência, insatisfação, instabilidade, superficialidade. Às vezes, na VR criamos estruturas tão paternalistas que não ajudam o jovem a caminhar com responsabilidade. 
Neste sentido, como fica a experiência religiosa? Quem é Deus para mim? Para muitos, a experiência religiosa significa estar bem consigo mesmo. Deus é quem me satisfaz. Quando isso acontece, revela-se pouca incidência na vida e não envolvimento da pessoa em profundidade no seu processo vocacional. Pessoas centradas em si mesmas, raramente tem pertença a uma causa. Pensam que tudo pode ser obtido facilmente. É preciso ficar atentos aos formandos que tentam comprar os formadores. 
Cai-se num relativismo ético sem que os valores sejam compartilhados. Nem a vida e nem os bens são compartilhados. 

Questões vitais a serem apresentadas:
- O que significa pessoas frágeis vocacionalmente?
- Não se sustentam nas crises?
- Inconsistentes em relação às escolhas feitas?
- Incapazes de fidelidades aos compromissos assumidos?
- Fragilidade institucional? Dificilmente ouvimos falar deste tema.
- Pessoas e estruturas são temporais, por isso estão sujeitas às influências externas.
-  Quem são os responsáveis ou culpados pelos fracassos dos religiosos?

Expressões da fragilidade das vocações:
- incapacidade de desilusões definitivas;
- incerteza de identidade vocacional;
- busca de segurança;

Fenomenologia da fragilidade:
- carência de amadurecimento humano;
- falta de motivações de fé; o jovem que está em nossa casa de formação se sente chamado por Deus?
- fragilidade dos caminhos formativos;
- mal-estar das comunidades.

Constantemente devemos rever os caminhos formativos para ajudar os jovens na resposta vocacional. Muitos problemas comunitários existem devido às fragilidades e as grandes influências. Por isso, é preciso olhar o vocacionado no todo.

FRAGILIDADE VOCACIONAL

O tema da fragilidade vocacional é percebido hoje nos seguintes indicadores:
-   na crise de credibilidade da Igreja e das Congregações;
- nos escândalos sexuais e financeiros que comprometem anos de evangelização;
- no fato de muitos se afastarem de nossas comunidades por não mais acreditar em nossa mensagem;
-   no abandono de muitos religiosos, religiosas e sacerdotes; 
- naqueles que permaneceram mas sentem-se envergonhados e constrangidos diante desses problemas.
“A frustração, por vezes, faz encarar o abandono como uma saída para não sucumbir”. (Doc. Congr. Vida Consagrada)
Deus nos elegeu, nos seduziu e confiou em nós apesar das nossas fragilidades. Estamos enfrentando na VR uma arrogância vocacional por parte daquelas pessoas que pensam que não precisam de ajuda. A transparência na formação é essencial para gerar confiança.

Texto iluminativo: Jo 21,15-19 – trata-se da eleição de Pedro.

A nossa sinceridade é de Deus em relação ao formando. Apesar de nossas fragilidades, é nesta condição que responderemos a Deus. Isto nos leva a reconhecer que Deus é o protagonista da nossa história e não anula nossa humanidade. Sentir-se vocacionado é em primeiro lugar, sentir-se amado por Deus, ser chamado pela Sua graça e ser capacitado por Ele.

AMADO – CHAMADO – CAPACITADO POR DEUS
E nosso papel como formadores é fazer o jovem perceber essa verdade.
Não se inicia nenhum processo formativo que não tenha como ponto de partida o encontro com Cristo. A iniciativa é do Senhor que chama: “segue-me”. O encontro é a possibilidade da formação como um processo renovador e de amadurecimento. O amadurecimento vocacional é progressivo e nunca imediato.

Texto iluminativo: Jo 12,24: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer...”

A resposta vocacional exige renúncias e, mesmo que os candidatos queiram livremente assumi-las, nem todos tem condições. Não basta boa vontade, pois tem renúncias que fazem mal para a pessoa, exigem dela o que ela não pode oferecer e tampouco viver. “Nem todo ato da vontade é um ato livre” (Papa Francisco). Os limites não dependem de um eventual desconhecimento da norma. Uma pessoa, mesmo conhecendo bem a norma, pode ter grandes dificuldades em compreender os “valores inerentes à norma”.
“Pode haver fatores que limitam a capacidade de decisão. E São Tomás de Aquino reconhecia que alguém pode ter a graça e a caridade, mas é incapaz de exercitar bem alguma das virtudes, pelo que, embora possua todas as virtudes morais infusas, não manifesta com clareza a existência de alguma delas, porque a prática exterior dessa virtude está dificultada: ‘Diz-se que alguns Santos não têm certas virtudes, enquanto experimentam dificuldade em pô-las em ato, embora tenham os hábitos de todas as virtudes” (Amoris Laetitia 301).

O amor cristão se dá em três relações conforme 1Jo 4,19¬_5,4:
O amor de Deus para conosco,
O nosso amor para com Deus e,
O nosso amor para com os irmãos.
Se amamos os outros temos a prova real de que Deus nos alcançou.

Graus da Caridade Evangélica

1. Ama o próximo como a ti mesmo (Mt 19,19),
2. Ama o próximo como amas a Jesus (Mt 25,40),
3. Ama o próximo como Jesus nos ama (Jo 15,12,
4. Ama o próximo como a Santíssima Trindade (Jo 17,20-21) – o mais perfeito amor é revelado por Jesus em forma de oração. Aqui está a grandeza e o desafio do verdadeiro amor.

O Concílio Vaticano II afirmou que “a Igreja é perita em humanidade” e nós enquanto consagrados, deveríamos ser peritos em caridade e amor ao próximo.

Quais os valores que são inegociáveis no processo formativo?
Os elementos constitutivos da Vida Consagrada se expressam em quatro pilares:
O primado de Deus,
O serviço aos mais necessitados,
A fraternidade da comunhão,
A vivência alegre dos conselhos evangélicos.

Se enfraquecermos esses pilares constitutivos da nossa identidade podemos provocar a fragilidade vocacional. “Uma sociedade que cria leis para cumprir leis, tem alguma coisa errada” (Marciano Vidal). Nós somos especialistas em leis e podemos correr o risco de deixar a vivência dos votos, da fraternidade, do carisma para servir às leis. Deus nos chamou para servi-lo e não para substituí-lo. A caridade tem que assumir o rosto de Jesus Bom Pastor na Vida Religiosa.
Nem sempre viver em comunidade é ter um só coração e uma só alma, mas é ter o desejo de comunhão de vida. Relações pessoais que se tornam apenas formais, fragmentadas, nos levam ao mundo privado e à busca de compensações nas mídias sociais ou em outros meios. Comunhão de vida é aquela que se apresenta como uma eloquente confissão trinitária, mas para que isso seja real ela precisa de maior visibilidade, isto é, ser testemunho palpável. (VC 21; RAFIS n.90).
 A realização da vontade de Deus deve ser alegre e prazerosa. Por isso, é preciso cuidar do processo formativo. Pessoas com arrogância espiritual não deixam lugar para Deus. Infelizmente, há pessoas que pensam que ser religioso ou padre não nos torna menos frágeis e vulneráveis do que somos. O fato de receber a profissão perpétua e a ordenação sacerdotal não nos dá nenhum privilégio. É nesta condição que devemos nos doar e fazer o melhor que podemos. Daí nos vem o questionamento: o que oferecermos no dia da nossa profissão religiosa ou na ordenação sacerdotal? Tudo isso exige renúncias.
Amedeo Cencini escreve: “o não dado a alguma coisa deve resultar do sim dado a outra coisa de maior valor e maior significado”. 
Padre Ronaldo Zacarias também afirma que “num contexto em que tudo é possível: o sexo é superestimado, o individualismo é a regra máxima e a autorrealização é a meta absoluta, renunciar ao que não convém, abrir mão de expressar o amor e satisfazer o desejo de intimidade sexual, optar por não fazer de si o centro do universo, exige da pessoa uma capacidade de sublimação e de integração que nem sempre é possível e/ou saudável”.
A vida consagrada acaba se tornando para muitos um trampolim consciente ou inconsciente. Às vezes é um palco onde o autoerotismo passa a ser uma das grandes questões. Não se trata apenas da compensação sexual (ter ou não relação sexual), mas o autoerotismo pode ser também intelectual, espiritual, litúrgico e pastoral, ligado às vaidades.
Como critério vocacional devemos colocar tudo na balança: de um lado está Deus e do outro o que concorre para o bem e a realização do sujeito. Desde a promoção vocacional, é dever dos responsáveis ajudar as pessoas a viver uma profunda experiencia com Cristo.

Quais as consequências da diluição do protagonismo de Deus em nossas vidas? Onde encontramos forças para superarmos nossas fragilidades?

Os números 84 e 85 da Ratio Fundamentalis nos apontam a direção:

84. Em particular depois de alguns anos de experiência pastoral, podem facilmente emergir novos desafios que atinjam o ministério e à vida do presbítero:
a. A experiência da própria fraqueza: o irromper de contradições ainda alojadas na sua personalidade e que ele deve necessariamente enfrentar. A experiência da própria fraqueza poderá conduzir o sacerdote a uma maior humildade e confiança na ação misericordiosa do Senhor – cuja “força se manifesta plenamente na fraqueza” (2Cor 12,9) –, e ainda a uma atitude de benévola compreensão nas suas relações com os demais. O presbítero não deverá isolar- se; ele terá, em vez disso, necessidade de amparo e acompanhamento no âmbito espiritual e/ou psicológico. Em todo o caso, será útil intensificar a relação com o Diretor espiritual, para que das contrariedades se tirem ensinamentos positivos, aprendendo a fazer luz sobre a verdade da própria vida e a compreendê-la melhor à luz do Evangelho.

b. O risco de sentir-se um funcionário do sagrado: o passar do tempo, que cria no sacerdote a sensação de ser como que um empregado da comunidade ou um funcionário do sagrado120, sem um coração de pastor. Aos primeiros sinais desta situação, será importante que o presbítero se possa dar conta de uma proximidade particular dos seus irmãos e se lhes torne acessível. De fato, como recordou o Papa Francisco, «não servem [...] sacerdotes funcionários que, enquanto desempenham um papel, procuram a sua própria consolação longe do Senhor. Somente quem mantiver fixo o olhar naquilo que é verdadeiramente essencial conseguirá renovar o seu “sim” ao dom recebido e, nas várias fases da vida, não deixará de se entregar a si mesmo; só aqueles que se deixam conformar com o Bom Pastor encontram a unidade, a paz e a força na obediência do serviço [...]».

c. O desafio da cultura contemporânea: a inserção adequada do ministério sacerdotal na cultura hodierna, com todas as diversificadas problemáticas que esta comporta e que exigem abertura e atualização por parte dos sacerdotes122, e, sobretudo, uma sólida ancoragem nas quatro dimensões da formação: humana, espiritual, intelectual e pastoral.
d. A atração do poder e da riqueza: o apego a uma posição, a obsessão por criar espaços exclusivos para si mesmo, a aspiração a uma carreira, o surgimento do desejo de poder ou de riqueza, com a consequente falta de disponibilidade à vontade de Deus, às necessidades do povo que lhe foi confiado e ao mandato do Bispo. Em tais situações, será oportuna a correção fraterna, ou a repreensão, ou um outro meio da solicitude pastoral, a menos que tais comportamentos não configurem um delito que comporte a aplicação de penas canônicas.

f. A dedicação total ao próprio ministério: com o decorrer do tempo, o cansaço, o natural enfraquecimento físico e o surgimento das primeiras fragilidades da saúde, os conflitos, as desilusões relativas às expectativas pastorais, o peso da rotina, a fadiga da mudança e outros condicionamentos sócio-culturais podem vir a enfraquecer o zelo apostólico e a generosidade na própria dedicação ao ministério pastoral.

85. Em qualquer idade, pode acontecer que um sacerdote necessite de assistência por causa de uma enfermidade. Os sacerdotes idosos e doentes oferecem à comunidade cristã e ao presbitério o próprio testemunho e são um sinal eficaz e eloquente de uma vida doada ao Senhor. É importante que eles continuem a sentir-se parte ativa no presbitério e na vida diocesana, também através de frequentes visitas dos irmãos e da sua proximidade solícita.

Onde encontramos forças para superarmos nossas fragilidades? A resposta é na própria vocação. A chave é revitalizar a própria vocação. Somos vasos de barro que podem trincar, quebrar ou despedaçar a qualquer momento. Como forma de prevenção: ter suficiente conhecimento sobre nós mesmos, aceitar o que somos e nos empenhar para mudar o que pode e deve ser mudado (RAFIS 43 e 94b).

FRAGILIDADE INSTITUCIONAL

Falamos muito de fragilidade vocacional e não damos importância à fragilidade institucional. As instituições são criadas e mantidas por pessoas e tem influência direta na vida de cada um. Questões atuais:
Migração de padres religiosos para as dioceses;
O que mais encanta na vida diocesana?
Diante do abandono de tantos religiosos(as) e sacerdotes constata-se que algo não está bem.
Por que perderam o encanto inicial?
Processos formativos tão longos e que não proporcionam o discernimento acertado?
O que falhou na formação?

O que está em jogo é o chamado de Deus. O discernimento se concretiza dentro de uma instituição. As instituições também são parte do chamado de Deus. Discernir a melhor forma de concretizar esse chamado não é tarefa fácil, exige de nós formadores preparação integral. Às vezes nossa vaidade pessoal atrapalha o formando. Somos pedra de construção na formação quando trazemos o pensamento de Deus para nossos jovens e por isso, não podemos ser negligentes.
As pessoas podem errar apesar da retidão de consciência, pois se veem imbuídas do desejo de acertar. É sempre bom questionar-se:
As decisões são resultado de acompanhamento e discernimento vocacional? Ou de frustrações e decepções?
As nossas obras, estruturas sempre preservam ou resplandecem o encanto da vocação?
Somos apenas uma peça na engrenagem?
A Instituição ajuda a viver os quatro elementos constitutivos da Vida Consagrada? Ou se tornaram um grande peso no discernimento vocacional?
É necessário definir novas modalidades de presença e urgências pastorais. Pode ser que diante das dificuldades, o problema esteja em nossas obras. Neste caso, a formação deve olhar atentamente para nossas estruturas.

“As novas pobrezas interpelam a consciência de muitos consagrados e solicitam aos carismas históricos novas formas de resposta generosa frente às novas situações e aos novos descartes da história. Daí o florescimento das novas formas de presença e de serviço nas múltiplas periferias existenciais” (Doc. Vinho Novo, Odres novos – A VC desde o Concílio Vaticano II, 2017, n.7).

Rever nossas obras, é olhar para as novas situações. Estamos dando novas formas de respostas? O desafio maior é a inovação: “o velho esquema institucional tem dificuldade em dar passagem a novos modelos de modo decidido” (Doc. Vinho Novo... n. 9).
“Não podemos continuar a protelar o dever de entendermos juntos onde se encontra o nó a desatar, para sairmos da paralisia e superarmos o medo frente ao futuro” (Doc. Vinho Novo... n.10).
“Muitas vezes essas crises afetivas são fruto de uma remota desilusão por uma vida de comunidade sem autenticidade” (Doc. Vinho Novo... n.13).
O n. 24 é bem mais contundente: “dentre os motivos principais dos abandonos, destacam-se... o debilitamento da visão de fé, os conflitos na vida fraterna e a vida fraterna débil em termos de humanidade” (Vinho novo... 24).
Isso sem dúvida, justifica os abandonos. Devemos nos perguntar, como acolhemos quem está em nossa casa? Onde mora nossa humanidade?
“Sem a elasticidade necessária, nenhuma forma institucional, por muito venerada que seja, é capaz de suportar as tensões da vida ou de responder aos apelos da história” (Vinho novo... n.1). “Isso requer a abertura mental para imaginar modalidades de seguimento, proféticas e carismáticas, vividas em esquemas adequados, e talvez inéditos” (Vinho novo... n.3ª).
Nossas estruturas devem ajudar a sermos luz no mundo. Qual a nossa proposta profética para o mundo hoje? Quando não se tem uma presença viva, profética, testemunhal, estamos tirando Deus do mundo. Como a estrutura me ajuda a ser forte e testemunhar? A Vida Religiosa está tentando sobreviver. Quando nos acomodamos é porque não acreditamos no Espírito Santo.

Será que realmente acreditamos o suficiente que o Espírito age em nós e por meio de nós? Vale também para as estruturas e instituições? Qual o significado profético da missão?

“Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Investigações sociológicas “tem mostrado que não faltam, nos jovens, aspirações por valores genuínos pelos quais estão dispostos a empenhar-se seriamente. Reconhece-se nos jovens uma disponibilidade para a transcendência, uma capacidade de se apaixonar por causas de solidariedade, de justiça e de liberdade. No entanto, a vida religiosa, com seus estilos estandardizados – demasiadas vezes fora do contexto cultural – e o afã talvez excessivo pela gestão das obras, corre o risco de não captar o desejo mais profundo dos jovens” (Vinho novo... n. 12c)
Acreditamos verdadeiramente que o Senhor está entre nós? Talvez nossa capacidade de inovar esteja em nossa falta de fé

Existe diferença entre ter vocação e viver com vocação? Viver com vocação a pessoa se sente continuamente provocada por Deus – vive o serviço, contemplativo na ação.
Minha vida testemunha minha consagração?
Reconheço-me com os mesmos sentimentos de Jesus?
Deixo-me guiar pelo Espírito Santo?
Qual o significado da Palavra que todos os dias entra em meus ouvidos e cai em meu coração?
O que significa servir?
Tem pessoas que mudam a África, mas não arrumam seu quarto. Nosso povo tem o direito de ver em nosso rosto uma luz resplandecente. 

Sou uma pessoa de compaixão?
Qual a minha consciência de religioso(a) ou sacerdote?
Como vivo a virtude da obediência a Deus?
A instituição deve ajudar o formando na passagem da heteronomia para a autonomia.

“A presença do Espírito nas Congregações hoje, encontra ambientes e espaços propícios para crescer em vida nova, suscitar novas estruturas de serviço, animar e sustentar os que porventura se encontram desanimados e desencorajados? Nossos ambientes, espaços, estruturas são verdadeiramente teologais, de acolhida, de oração, de atenção aos sinais dos tempos? As estruturas que temos são meios ou fins?” (P. Ronaldo Zacarias).

“À semelhança do profeta Jonas, sempre permanece latente em nós a tentação de fugir para um lugar seguro, que pode ter muitos nomes: individualismo, espiritualismo, confinamento em mundos pequenos, dependência, instalação, repetição de esquemas preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia, pessimismo, refúgio nas normas. Talvez nos sintamos relutantes em deixar um território que nos era conhecido e controlável. Todavia as dificuldades podem ser como a tempestade, a baleia, o verme que fez secar o rícino de Jonas, ou o vento e o sol que lhe dardejaram a cabeça; e, tal como para ele, podem ter a função de nos fazer voltar para este Deus que é ternura e nos quer levar a uma itinerância constante e renovadora” (Gaudete et exsultate n. 134).

Qual é o sentido da oferta de uma vida que, com o passar do tempo, se descobre irrelevante para as pessoas, a Igreja e a sociedade? Por que e quando corremos o risco de nos tornarmos irrelevantes como consagradas, consagrados e/ou sacerdotes?
Quando nos acostumamos com essa vida perdemos o sentido. A rotina torna-se um grande mal. Ter a consciência de que Deus é quem nos une é tornar a vida religiosa dinâmica, do contrário será um peso. Devemos ser incentivadores das pessoas, profetas da esperança, pois o mundo já tem críticos demais. O Deus da promessa gera o povo da esperança dinâmica que olha sempre para a frente.
Como incentivar as pessoas se elas encontram nossas comunidades fragilizadas? Como formadores, somos incentivadores e não possuidores dos formandos. A superação destes obstáculos está no modelo de comunidades samaritanas. 
“Se voltarmos ao caso do bom samaritano, vemos que até ele precisou da existência duma estalagem que lhe permitisse resolver o que não estava em condições de garantir sozinho, naquele momento” (Fratelli tutti n.165). Nossas casas são os locais da cura. Assim se faz necessário que a formação não esteja nas mãos de uma única pessoa, mas seja entregue à comunidade, como um projeto de comunhão.
“A separação entre o que é proposto em nível de valores e aquilo que é vivido concretamente pode conduzir até a uma crise de fé” (Vinho novo... n. 12b).
As pessoas podem comprometer a missão de uma instituição, mas também a instituição pode comprometer a perseverança de uma pessoa. Nossas carências, a falta de união entre formadores, podem causar esses dramas. As estruturas às vezes são muito pesadas, viram as costas para as pessoas e impedem o encontro.
A crise de credibilidade em relação às religiosas, aos religiosos e padres também gera uma crise da parte dos próprios religiosos, religiosas, padres no dom vocacional e na possibilidade de viver compromissos definitivos?
“Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente, não se pode viver a fé, os sonhos sem comunidade, apenas no próprio coração ou em casa, fechados e isolados dentro de quatro paredes; precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! Como fazeis hoje: aqui, todos unidos, sem barreiras. Por favor, sonhai juntos, não sozinhos; com os outros, nunca contra os outros. Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se constroem os sonhos” (Discurso do Papa Francisco em encontro inter-religioso com jovens da Macedônia do Norte, Skopje, n.8).

 O discernimento exige conhecimento teórico e mental, docilidade ao Espírito e capacidade de agir (tomada de decisões). Diante disso, o formador deve ter um nível de testemunho. 

Neste caminho é preciso levar em consideração:
- Em muitos casos dá-se um excessivo peso aos estudos acadêmicos, com escassa possibilidade de um trabalho sério sobre si;
- Elementos formativos essenciais: a preocupação com as motivações, emoções, afetos, sentimentos; o processo de identificação com a vocação da Congregação; assumir responsabilidades na própria formação e o projeto pessoal de vida; o acompanhamento pessoal, a prática do discernimento, a enculturação formativa.
- Estamos num campo que toca o mistério da liberdade da pessoa e da graça do Espírito;
- Precisa-se de um acompanhamento pessoal, bem equilibrado entre espiritualidade e ciências humanas: compreensão e de grande exigência;
- O acompanhamento deve ajudar a diminuir as distâncias entre ideal e real, levando a aceitar o pequeno passo cotidiano sem fazer descontos quanto ao ideal;
- Não deve criar dependências, mas capacidades de opções autônomas e responsáveis; deve habituar à autodisciplina, à ascese, ao espírito de sacrifício, à renúncia. 
Desafios para a formação

“No mundo atual, caracterizado por um pluralismo cada vez mais evidente e por um leque de opções sempre mais amplo, a questão das escolhas a fazer apresenta-se com particular intensidade e a vários níveis, principalmente diante de itinerários de vida cada vez menos lineares, marcados por uma grande precariedade” (Papa Francisco, “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, doc. Final, n.91).

Constatação: se não temos uma proposta séria em nossa Congregação, dificilmente atrairemos os jovens. A formação inicial começa com a promoção vocacional. A formação para a VR e sacerdotal é uma tarefa fundamental na Igreja e chama em causa o nosso ministério. O desafio é tomarmos consciência da nossa responsabilidade. O que devemos fazer para ajudar nossos jovens numa coerente resposta vocacional? Onde estão as questões de base na crise dos religiosos, religiosas e padres?

“Meus olhos viram a Salvação. Os olhos de Simeão viram a Salvação, porque A esperavam (cf. 2, 25). Eram olhos que aguardavam, que esperavam. Procuravam a luz, e viram a luz das nações (cf. 2, 32). O olhar dos consagrados só pode ser um olhar de esperança. Saber esperar. Olhando em redor, é fácil perder a esperança: as coisas que estão mal, a diminuição das vocações, etc. Aqui está o segredo: não se afastar do Senhor, fonte da esperança. Tornamo-nos cegos, se não fixarmos o olhar no Senhor todos os dias, se não O adorarmos” (Papa Francisco, homilia Festa da Apresentação do Senhor, 02/02/21).
Qual o meu olhar de religioso para a Congregação e a Igreja? É um olhar de esperança? Não podemos nos afastar do Templo que é o Senhor.
A vocação é um contínuo movimento de descida ao complexo chão da realidade humana; descer à realidade para “ver e escutar” (Ex 3,7-10). A pluralidade das formandas e dos formandos, no contexto atual – juventudes marcadas, também, pela fragilidade dos vínculos familiares, a perda do sentido do sagrado, da transcendência e do pecado, gera uma cultura que relativiza valores capazes de dar sentido à vida; a perda do senso de pertença comunitária; a sexualidade fragmentada, são elementos latentes que exigem de nós mais responsabilidade no acompanhamento dos jovens.
O formador também deve ter maturidade para reconhecer que nem sempre tem condições de ajudar e, se for o caso, ter a sabedoria para afastar-se desse ministério no momento oportuno. “Sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião” (Gaudete et exsultate, 167).

O vento do mundo está entrando com toda força em nossas casas. Precisamos escutar os formandos e ver os sinais de que a realidade nos aponta. É um grande desafio para um jovem sadio assumir a VR hoje, ainda mais se eles encontram nossas comunidades doentes.
“A humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra. De tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflete também na vida religiosa” (Gaudium et spes, 4).

A crise das instituições, da Igreja e da família afetam diretamente os jovens. Muitos cresceram nessa sociedade em que a palavra perdeu seu valor. Os que entram nas instituições hoje trazem suas desconfianças. É por isso, que precisam perceber coerência e seriedade em nós. A falta do testemunho evangélico leva à diminuição numérica ou qualitativa das vocações. Os formandos estão cientes da rapidez das transformações no mundo. A construção e a revisão de um projeto formativo pressupõem o conhecimento das grandes mudanças globais contemporâneas e, de forma especial do seguimento do jovem na sociedade brasileira.
É à luz da conjuntura mundial e regional que se deve discutir o significado da experiência de formar na vida consagrada. O processo de formação não se resume apenas no enfoque religioso, mas se constitui numa mistura de enfoques: psicológico, sociocultural, político, econômico, institucional e ético.
“A humanidade passa, assim, duma concepção predominantemente estática da ordem das coisas para um outra, preferentemente dinâmica e evolutiva; daqui nasce uma nova e imensa problemática, a qual está a exigir novas análises e novas sínteses” (Gaudium et spes, 5).
A juventude está imersa no mundo da internet, das redes sociais, das inovações tecnológicas, da cultura do descartável e da camuflagem das consciências. A dependência virtual é um dos dramas. Como fazê-los apaixonar-se por Cristo hoje? O que os conduz? Qual a nossa proposta de libertação? A resposta a estes questionamentos deve ser dada por cada instituição de acordo com sua realidade, levando em consideração que não basta apenas abordar esses temas, mas é preciso viver o mistério.
A cultura atual, marcada pela fragmentação e liquidez das relações, por excitações de todos os tipos, pela fragmentação e tirania do prazer, pela emergência da discussão em torno da identidade de gênero, pela desagregação do papel da família tradicional, influencia diretamente as novas identidades de religiosos e religiosas a um estilo de vida que implica a vivência da sexualidade na expressão celibatária.
Segundo a pesquisa psicológica atual, a estrutura psíquica do jovem é vacilante; as suas necessidades são maiores e mais profundamente em contraste com os valores vocacionais objetivos tais como a união com Deus, a imitação de Cristo e a prática dos três conselhos evangélicos. A força dos valores é diminuída diante da força das necessidades pessoais que nem sempre estão em harmonia com os valores da sequela Christi. É preciso que, ao responder à própria vocação, as religiosas e os religiosos sejam ajudados a assumir seus limites, e não a refugiar-se nos quadros institucionais que os seduzem. É menor hoje a influência das estruturas formativas e maior a importância dada dos papéis vocacionais, com o risco de que a escolha religiosa seja vista em termos de fazer do que ser.
  Na cultura do fragmentado, do consumo, da descontinuidade, do precário, do provisório, do instável, de identidades volúveis parece que um caminho formativo se torna sempre obsoleto e de difícil integração, ainda mais no que se refere à instância mais preciosa e sagrada de todo ser humano, sua capacidade de sentir, sonhar, fantasiar e apostar positivamente no futuro.
Existe uma contínua exigência da nossa renovação sem perder a essência. Como atingir esses jovens que estão presos numa bolha? A propaganda vocacional é importante, mas o convite pessoal é mais eficaz a exemplo de Jesus. Devemos acreditar que quem faz a vocação crescer é o Senhor.

Para o exercício do discernimento, é “necessário ter um olhar perspicaz e, ao mesmo tempo, uma visão de fé sobre o mundo e em particular sobre o mundo dos jovens. É essencial conhecer bem a nossa sociedade e a atual geração de jovens de modo que, procurando os meios oportunos para lhes anunciar a Boa Nova, possamos anunciar-lhes também o «evangelho da vocação». Caso contrário, estaríamos a dar respostas a perguntas que ninguém faz” (Mensagem do Papa Francisco aos participantes no Congresso sobre o tema: «Pastoral Vocacional e Vida Consagrada: horizontes e esperanças»).

O mundo globalizado é cada vez mais dominado por um “pensamento débil”, pela falsa concepção de liberdade, individualismo exacerbado, privatização da existência. São introduzidas: leis que ameaçam a vida humana desde o seu nascimento até o seu ocaso. Nesta “cultura do provisório”, é visível o medo diante dos compromissos definitivos, a banalização da sexualidade, a ideologia de gênero.
A atual crise antropológica e social atinge, de modo particular, a família, tornando-a vulnerável em seus valores constitutivos de unidade, fidelidade, indissolubilidade e fecundidade. E a formação neste contexto?
Em tempos como os nossos - carregados de esperança, mas também de muitas angústias - em que o sentido da sedução, excitação, estética visual e corporal, impactos mediáticos imediatos e apologia a comportamentos narcísicos se apresentam também como referenciais possíveis, os candidatos à total entrega de suas vidas por meio do celibato e da continência trazem seus corpos e subjetividades, influenciados pelos dramas no cotidiano de suas vidas, o desejo de um  amor oblativo, mas também certa dificuldade de entregar-se sem reservas.
Não importa quantos recursos temos nas instituições, se não soubermos usar, nunca será suficiente. Como propor a VR para os jovens, se nós não estamos encantados? Existe hoje uma pobreza de relações, do caráter moral, espiritual e cultural. Vivemos como “caminhantes perdidos” nos modernos labirintos da vida.  
E a formação neste contexto todo?

Acompanhamento vocacional continuado e comunitário:
cuidar dos ambientes formativos, de modo que sejam saudáveis e capazes de propostas;
Favorecer o exame e o aprofundamento da vocação, particularmente em termos de amadurecimento humano;
suficiente conhecimento e aceitação de si;
robustecer a vida afetiva e sexual;
tomar consciência da incidência educativa da família;
examinar a sua situação de saúde física e psicológica;
tomar nas mãos a própria história pessoal;
enraizamento na fé e na vida cristã: catequese sólida com a iniciação a vida sacramental, a devoção Mariana, a vida de oração.

Vocação é dom! É expressão de uma predileção de amor: “não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes frutos e para que o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). Reconhecer a própria vocação e abraçá-la requer discernimento e coragem. A vocação, de fato, é uma significativa dimensão teológica da revelação de Jesus Cristo, que é o primeiro “chamado” do Pai.
 
Papa Francisco: a formação é um encontro com o Senhor; “significa aprender o estilo de Jesus, o que passa pelos lugares da vida diária, se detém sem pressa e, olhando para os irmãos com misericórdia, os conduz ao encontro com Deus Pai” (Papa Francisco, Discurso aos participantes do Congresso Internacional da Pastoral Vocacional).
A vocação é conduzir para Deus = resposta a Deus. Apresentar Jesus como Caminho, Verdade e Vida para levar os jovens a pedir: “Mostra-nos o Pai e isto nos basta”. 
Muitos religiosos e religiosas tem dificuldade de entender o Mestre e, mesmo dialogando com Ele, não compreendem tudo o que lhes é falado. “Felipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? (Jo 14,9). Realmente, os religiosos e as religiosas demonstram certa dificuldade de reconhecer, na pessoa de Jesus, a presença do Pai.   Formar a consciência e o coração é apresentar Jesus. Cada geração é chamada a dar sua própria “resposta a proposta aqui é Jesus”. 
Uma experiência de Deus que leve o religioso e a religiosa a se perguntar pelas próprias motivações vocacionais e que faça emergir nele o seu Projeto de Vida.  
Questionar: para que e para quem é o processo do discernimento? Para o outro, o jovem, a pessoa do vocacionado? Mas também para formadoras e formadores? Quem são os protagonistas e como se desenvolve esse exercício ministerial? 
Como podemos conhecer o caminho? Caminhando na presença do Mestre, esse é o processo do discernimento a luz da Palavra. Quem são os jovens? De onde vieram? Para onde pretendem ir? O que buscam esses desocupados nas praças da vida? Requer um crescimento constante na cultura, no respeito e no diálogo. 
Quanto aos desafios no processo formativo: 
Aumento da degradação familiar, abalando desse modo, o lado afetivo e emocional dos vocacionados. Assistimos atônitos à invasão dos grandes meios de comunicação, das redes sociais em geral, que dão ênfase a banalidade, ao consumismo, a vulgarização da sexualidade e a ridicularização de muitos valores, ao imediatismo e a cultura do descartável, quando instituições, como a família, a escola, a congregação, a igreja e a religião, não conseguem propor o chamado de Deus aos vocacionados. Aprofundamento quanto as questões do celibato e da castidade, de género (feminino e masculino), da afetividade da sexualidade, da homossexualidade, a partir da antropologia cristã.
Precisamos de mistagogos que conduzam os religiosos e religiosas na experiência de Deus, no encontro pessoal. A partir de uma relação dialogal, os formando se formandas serem ajudados a encontrar-se consigo mesmos, com os outros e com Deus, para ter uma vida espiritual e humana de qualidade. 
É papel fundamental daqueles que acompanham os jovens ajudá-los “a gerir autonomamente as dimensões da vida que são ao mesmo tempo fundamentais e cotidianas: a utilização do tempo e do dinheiro, o estilo de vida e de consumo, o estudo e o tempo livre, as roupas e os alimentos, a vida afetiva e a sexualidade”.
No campo da formação para o sacerdócio e vida religiosa, é temerário confiar apenas em alguns aspectos, como se eles fossem condição mínima suficiente para a caminhada vocacional. Mais e mais é preciso estar atento a vários aspectos na vida da formanda e do formando. 
A necessidade de uma formação integrada, humana e espiritual. infelizmente a formação não raramente é de tipo intelectual, sem atingir os afetos e as paixões que constituem a energia indispensável para cumprir o bem. Assim as palavras falam do Evangelho, mas os afetos não são evangelizados. A formação deve ser integral.
Atenção a possíveis obstáculos à autêntica vocação: “a dependência afetiva excessiva, a agressividade desproporcionada, a insuficiente capacidade em manter-se fiel aos compromissos assumidos e em estabelecer relações serenas de abertura, de confiança e de colaboração fraterna e com a autoridade, a identidade sexual confusa ou ainda não bem definida” (Congregação para a Educação Católica. Orientações para o uso das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio, 29/06/2008, n.8)
Não raro nos contentamos com a palavra do rapaz/moça que nos diz que quer ser um religioso/a ou sacerdote no futuro. E não vamos atrás de outros quesitos, não menos importantes. 
“Não se podem encher os seminários com qualquer tipo de motivações, e menos ainda se estas estão relacionadas com insegurança afetiva, busca de formas de poder, glória humana ou bem-estar econômico” (Papa Francisco, EG, 107).
Para o Papa Francisco, precisa selecionar bem os candidatos e que estes estejam conscientes da tentação do necropoder (poder que gera a morte), que serve do espaço religioso para alcançar os próprios interesses. Em geral escuta-se que o verdadeiro problema dos jovens não é pouca disposição à vocação, mas justamente o da perseverança e adesão completa às exigências que a vocação comporta. 

 
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